sábado, 10 de novembro de 2012

Capítulo 1


Que belo fim de mundo viemos parar. De uma bela e adorável viagem, conseguimos perder nosso trem. Agora aqui estamos, nos cafundós da magnifica Itália, com toda nossa bagagem de duas semanas em um ônibus quase caindo aos pedaços, tentando achar algum telefone que preste.
- Porque tão pensativa Andrea?
- Que pergunta hein, Rafael? Estamos no meio do nada, os celulares não tem sinal e sem contar que nossos pais devem estar loucos de tanta preocupação.
- Se preocupa tanto não, daqui a pouco vai começar a ter rugas. Vem aqui com a gente jogar stop.
- Stop? Sério?Você sabe que eu sou péssima nisso, a lerdeza atrapalha.
- Eu te ajudo.
- Isso não vale.
- Tudo bem então, perdedora.
- Dá aqui uma folha de papel então, você vai ver quem é a perdedora daqui a pouco, idiota – me sento no banco ao lado de Tatiana e Melissa. Tomás, como sempre, preferiu ficar dormindo – Só o que falta agora é o Jason e sua faquinha aparecerem – neste mesmo momento, o ônibus dá uma parada e um garoto entra nele.
- Andrea e sua boca grande – Tomás, que no final das contas não estava dormindo, levanta a cabeça para me acusar.
- Cala a boca e vê se dorme – dou um tapa em sua cabeça para enfatizar a ordem.
- Até parece que manda em alguma coisa – tento lhe dar outro tapa, mas ele é mais rápido e segura minha mão.
- Chato – falo quando a solta.
- Olha que eu vou começar a ficar com ciúmes.
- Como se algum de vocês tivessem algum motivo pra ficar assim – digo apontando para Rafael e Tomás.
- Como você sempre consegue que os carinhas mais bonitos desejem você? - Melissa pergunta, fazendo com que Rafael fique ainda mais fresco do que já é normalmente.
- Realmente me acha bonito?
- Ah cara, vê se cala a boca – Tomás diz em um resmungo tentando voltar a dormir, com um leve rubor em suas bochechas.
- Não sei de onde você tirou essa ideia, Melissa – digo ignorando a ambos, e não sei mesmo, apesar de ter sido provocada pelos dois ao longo dessa “divertida” viagem, sei que é só um modo de distração pra ninguém matar ninguém.
- Estou começando a desconfiar que sua lerdeza não é só física, Andrea – Tati entra na conversa.
- Ótimo, outra pra me ajudar. Vou fingir que não ouvi isso.
- Por que? Tem medo da verdade? - diz Tomás para meu total espanto.
Antes que eu tivesse a chance de responder ou apagar o avermelhado de meu rosto. O rapaz que acaba de entrar no ônibus se senta a minha frente. Havia me esquecido completamente dele, e se fosse um estuprador? Um assassino? Ou um louco? Sério, tem horas que posso ser bem pessimista. Mas parecia ser um bom garoto, sabe, nem era muito mais velho que a gente, tinha um belo rosto, com cabelos castanhos caindo em seus olhos e lábios carnudos com as curvas levemente para baixo, certamente estava chateado com algo.
- Hey, se incomodariam se me sentasse aqui?
- Claro que não – diz Melissa com puro interesse nos olhos.
- Então, isso é o fim do mundo. Por que um grupo como vocês estaria aqui? - ele continua.
- Te pergunto a mesma coisa – digo, afinal ele ainda poderia ser um assaltante.
- Falei primeiro – diz com a ponta de um começo de sorriso em seu rosto, que logo foi apagado para dar espaço novamente aos tristes e depressivos olhos, mas nem por isso minhas suspeitas acabaram, ele poderia estar fingindo.
- Nós estamos aqui por que este idiota – aponta para Rafael – nos fez perder o trem e, portanto, junto nossas férias – dá um suspiro – De novo.
Tati estava certa, não era a primeira vez que isto nos acontecia, sempre, por algum motivo, acabávamos estragando nossos planos perfeitos, era exatamente por isso que estávamos tão relaxados neste momento, digamos apenas que já tínhamos bastante experiência.
- Agora sua vez de responder – Melissa diz animadamente.
- Eu simplesmente vim parar aqui – olhoa para a janela, como se o assunto fosse desinteressante.
- Como assim? Você não pode simplesmente parar em algum lugar – começo a me interessar e antes que ele tivesse a chance de se defender digo – Pelo menos não sem alguma história.
- Exatamente. Uma história, das piores.
- Por que?
- Acho que é um tanto pessoal para ser contada a estranhos.
- Acha?
- Modo de dizer.
- Mas não dizem que é melhor desabafar aquilo que te aflige do que guardar dentro de si? - sim, eu já estava sendo abusada. Só um pouco.
- E como é que sabe que isto me aflige?
- Olhe para sua cara, é mais que óbvio.
- Tão óbvio assim?
- Muito mais que isso.
- Vamos Andrea, deixe o cara em paz, siga meu exemplo e dê uma cochilada.
- Desculpa Tomás, mas você não cochila, você desmaia, entra em coma, sei lá, porque nem uma orquestra inteira consegue te acordar quando realmente pega no sono até que você queira.
- Mesmo assim, ele tem um ponto – será que estava todo mundo contra mim hoje?
- Não, concordo com a Andi, vamos, nos conte logo. Também estou curiosa.
 - Talvez eu conte se...
 - Se?!
 - Se vocês conseguirem me convencer.
 - Okay, deixem comigo - digo olhando para os outros antes de me fixar no viajante - Esta história te machuca, certo? - ele acente - E aposto que está louco para contar para alguém, soltar isto tudo que entala sua garganta e o entristece sempre quando fala, mas ou não pode por motivos pessoais ou algo a mais.
 - Correto.
 - Então o que melhor que estranhos que acabou de conhecer e nunca mais sequer vai vê-los de novo para contar? - sorrio animada, sabendo que marquei um ponto.
O viajante solta um suspiro vencido e começa a contar uma das melhores e mais tristes histórias que já ouvi.

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